quarta-feira, 24 de junho de 2009

perturbante


Deixas cair o copo,
entornando as últimas
gotas de vinho
que deixaste para trás…
marcas de uma boca sensual
que ficarão gravadas
até ao amanhã.
Essa boca
que procura qualquer
coisa para amar...
Na toalha de linho branco,
a cor púrpura e já amarga
desenha imagens
que podem ser de desejo…
mas que já não vês.
O teu corpo
está inebriado por
um desejo que te perfura
e que tão bem conheces…
Desejo que te faz desfalecer
conscientemente
no tapete da sala, deitares-te
e sentires por baixo da tua pele
o pêlo macio que te
lembra um corpo tantas
vezes amado…
e agora ausente.
Incontroladamente
controlados, os teus dedos
procuram a passagem para um
prazer que queres só para ti.
Os teus seios, acariciados pela
mão ávida de luxúria,
aumentam o gozo que te vem
das entranhas.
Contorces-te ao ritmo
das sombras que entretanto
tomaram conta do lugar.
Imaginas o teu corpo a dançar
no tecto dessa sala que
se transformou numa
gigantesca e desmesurada
cama de prazeres.
Estás sozinha, mas não estás,
imaginando os corpos
que por ti passam sucedendo-se
nas ondas de prazer que
te levam para lá da racionalidade.
E arranhas a seda suave das tuas
pernas à passagem das
tuas unhas eriçadas.
E tatuas na tua pele
os teus dentes brancos e perfeitos.
E rasgas a imaginação
com o prazer que não pára de crescer.
Sentes-te demente, ou nada
sentes de ti, porque tudo o
que sentes são os imaginados
corpos que te dão.
E não paras. Não paras de
te fazeres feliz na deambulação
das tuas mãos por um corpo
que tão bem conheces...o teu.
Arrancas de ti toda a solidão
agora transformada numa
orgia de corpos que por ti
vagueiam.
És actriz e espectadora
dessa peça encenada por ti.
E cai o pano sobre o teu corpo,
no preciso momento em que o
orgasmo te atinge e os aplausos
da plateia ecoam para lá
da irracionalidade.
Perturbante…

1 comentário:

  1. Perturbante o sentir na quase demência do prazer. Perturbante a semelhança com uma nódoa de vinho num determinado sofá. Perturbante a recordação. Num poema que não é meu.

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